sábado, 8 de dezembro de 2012


Amar talvez seja isso...
Descobrir o que o outro fala mesmo quando ele nao diz.
Padre Fábio de Melo
Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já tem a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos.
(Fernando Pessoa)
 
 
Eu encontrei quando não quis
Mais procurar o meu amor
E quanto levou foi pr'eu merecer
Antes um mês e eu já não sei
E até quem me vê lendo o jornal
Na fila do pão, sabe que eu te encontrei
E ninguém dirá que é tarde demais
Que é tão diferente assim
Do nosso amor a gente é que sabe...
(...)
Eu encontrei e quis duvidar
Tanto clichê deve não ser
Você me falou pr'eu não me preocupar
Ter fé e ver coragem no amor
(...)

[Los Hermanos]




 

domingo, 27 de maio de 2012

Uma Crônica para um amigo amado...
Todos os dias quando acordamos nascemos novamente. Há sempre no céu uma luz que é constante, mas nossa vida não é assim, essa constância se transforma em um turbilhão de sentimentos: ausência, saudade, amor, amizade, desejo... é a vida nos mostrando como somos, como nos sentimos.
Às vezes alguma barreira nos distancia daquilo que mais queremos, outras vezes sentimentos adormecidos desebrocham com pequenas proximidades e então, de maneira certa ou errada passamos a querer demonstrar nossos sentimentos, tocar o olhar, sentir o sorriso, a pele, como uma luz na caixa louca para iluminar e fazer o outro a enxergar.
Nessa vida também guardamos palavras que nunca foram ditas, mas que gostariam de serem ouvidas. Tentando disfarçar até escondemos no sorriso a tristeza e a vontade de encontrar o outro e dizer "eu nunca amei alguém como eu te amei". Todavia, os disfarces não duram para sempre e você se mostra como realmente é.
Só que na vida as coisas não são simples, pois de onde estamos vindo trazemos muitas bagagens pesadas que nos machucam e que ainda assim não sabemos onde e como deixá-las. O nosso coração pode até ser forte e podemos até pensar que suportaremos para sempre, mas nada pode estar acima de um sentimento verdadeiro que nem sequer teve a chance de ser vivido.
Renascer a cada dia só tem significado se a partir daí não olharmos mais para trás e sentirmos arrependimentos, se deixarmos os ventos nos levarem para onde o coração quer e proporcionar felicidade a quem espera dizendo: vou "fazer você sentir o meu amor" sem medo de errar e sem mais esperar, pois há sempre uma escolha a ser feita.

domingo, 6 de maio de 2012

 
ÉPICA - CRY FOR THE MOON (Clamor pela lua)

Siga seu bom senso, você não pode se esconder
Atrás de contos de fadas para sempre e sempre
Apenas revelando toda a verdade poderemos descobrir
A alma desta fortaleza doentia para sempre e sempre...

terça-feira, 10 de abril de 2012

Longe - Nickelback
 
"Esse tempo, esse lugar

Desperdícios, erros

Tanto tempo, Tão tarde

Quem era eu para te fazer esperar?"

segunda-feira, 19 de março de 2012

 
Não é fácil
Não é fácil olhar nos seus olhos
sem te dizer tudo que sinto
ter que dizer só pro meu coração
o que horas e horas imagino.
Só eu sei como é duro
disfarçar a emoção
e o disparar do coração
que ao te ver embala esta canção:
Eu quero você só pra mim
a você me entregar
e num momento sagrado
poder te amar.
Te amar sem reservas
sem medo de sonhar
te amar com amor
sem limite pra me entregar.
Por enquanto continuo em silêncio
à coragem eu não pertenço
choro quieta ouvindo soprar o vento.
 Lembranças
Olhos se encontraram
lábios se beijaram
juras foram feitas
a um coração sonhador.
Hoje, longe e separados
estamos nós desamparados
mas sempre sonhando
em ter felicidade.
Ainda vive em nós a amizade
que nos dá proximidade
propicia as lembranças
e grandes recordações.
Algumas vezes há fraquezas
lábios que se misturam em um sabor
sabor de desejo e saudade
de volta e continuidade.
Mas logo vem a realidade
o dia após o outro
que nos mostra que nada mudou
e que o sonho não continuou.
Eu continuo aqui no meu lugar
e você aí no seu
cada um com seu destino
vivendo o seu presente
com um triste adeus.

domingo, 18 de março de 2012

"Passei toda a noite, sem dormir, vendo, sem espaço, a figura dele,
E vendo-a sempre de maneiras diferentes do que a encontro a ele.
Faço pensamentos com a recordação do que ele é quando me fala,
E em cada pensamento ele varia de acordo com a sua semelhança.
Amar é pensar.
E eu quase que me esqueço de sentir só de pensar nele.
Não sei bem o que quero, mesmo dele, e eu não penso senão nele.
Tenho uma grande distração animada.
Quando desejo encontrá-lo
Quase que prefiro não o encontrar,
Para não ter que o deixar depois.
Não sei bem o que quero, nem quero saber o que quero.
Quero só Pensar nele.
Não peço nada a ninguém, nem a ele, senão pensar".

 "O amor é uma companhia.
Já não sei andar só pelos caminhos,
Porque já não posso andar só.
Um pensamento visível faz-me andar mais depressa
E ver menos, e ao mesmo tempo gostar bem de ir vendo tudo.
Mesmo a ausência dele é uma coisa que está comigo.
E eu gosto tanto dele que não sei como o desejar.

Se o não vejo, imagino-o e sou forte como as árvores altas.
Mas se o vejo tremo, não sei o que é feito do que sinto na ausência dele.
Todo eu sou qualquer força que me abandona.
Toda a realidade olha para mim como um girassol com a cara dele no meio".
(Releituras de Alberto Caeiro)
O cansaço de todas as ilusões e de tudo que há nas ilusões - a perda delas, a inutilidade de as ter, o antecansaço de ter que as ter para perdê-las, a mágoa de as ter tido, a vergonha intelectual de as ter tido sabendo que teriam tal fim.
A consciência da inconsciência da vida é o mais antigo imposto à inteligência. Há inteligências inconscientes - brilhos do espírito, correntes do entendimento, mistérios e filosofias - que têm o mesmo automatismo que os reflexos corpóreos, que a gestão que o fígado e os rins fazem de suas secreções.
(Bernardo Soares)
 

 Listen To Your Heart 

(Escute Seu Coração)

Eu sei há algo após seu sorriso.
Eu obtenho uma noção do olhar em seus olhos, sim.
Você construiu um amor, mas aquele amor se quebra.
Seu pedacinho do paraíso se transforma em escuridão

Escute seu coração
Quando ele chamar por você
Escute seu coração
Não há nada mais que você pode fazer.
Eu não sei aonde você vai
E eu não sei por que,
Mas escute seu coração
Antes de você lhe dizer adeus.

Às vezes você deseja saber se esta briga valeu a pena.
Os momentos preciosos estão todos perdidos na maré, sim
Eles são varridos e nada é o que parece,
O sentimento de pertencer a seus sonhos.

Escute seu coração
Quando ele chamar por você
Escute seu coração
Não há nada mais que você pode fazer.
Eu não sei aonde você vai
E eu não sei por que,
Mas escute seu coração
Antes de você lhe dizer adeus.

E há vozes
Que querem ser ouvidas.
Tanta coisa para falar
Mas você não consegue achar as palavras.
A essência de magia,
A beleza que havia
Quando amor era mais selvagem que o vento.

terça-feira, 24 de janeiro de 2012


SINTO MUITO

Sinto muito não poder te amar
gostaria de uma simples razão 
para não ter que te deixar.
Choro agora, olho à lua
e em mim só há um desejo
o de ser somente sua.
Um beijo uniu nossos sonhos
eternizando um sentimento
pena que apenas por um momento.
Eu bem sei que a vida
é sempre o momento que estamos vivendo,
mas preciso de caultela
não posso seguir contra o vento.
Tento controlar a ânsia de te ver
pois todo dia é a mesma coisa
desejo que as horas passem para eu logo te encontrar
e por um instante ao menos poder te abraçar.
Porém, o que me resta agora
é deixar o tempo passar
para que minha alma nessas dolorosas horas
possa vir a acalmar.

terça-feira, 17 de janeiro de 2012


A força do destino
Veja como é que são as coisas
perceba como elas acontecem
elas surgem de repente
simplesmente aparecem.
Você veio assim
meio que de repente
não esperava te reencontrar
mas agora te vejo claramente.
Você está bem aqui
com esse olhar sonhador
querendo me conquistar
parece até conhecer a minha dor.
Quem sabe o destinho
tenha reservado um lugar
para a gente se encontrar
e um dia então, poder se amar.
As forças do destino
nos colocaram frente a frente
penso que não foi por acaso
você pode ser quem vou amar pra sempre.
QUARTETOS...
Amo o seu riso
que nas noites vazias vem me alegrar
amo o seu doce encanto 
que vem e adoça meu pranto.

O meu pranto é por ti
também é por mim
que não sei o que fazer
para não sofrer assim.

No momento tudo é confuso
estou numa indecisão
meu caminho está escuro
e aflito está meu coração.

Por causa dessa indecisão
sofro por solidão
sofro por ser tão próxima de você
e não tocar sua mão.

Melhor seria se os medos acabassem
se a gente logo se amasse
se eu me entregasse sem medo
se o nosso amor fosse perfeito.
Quem ama sofre...
Não se deve amar com reservas
o amor tem de ser completo
entregue por inteiro
pois o tempo não espera.
Se você tem medo de amar
não tema
simplesmente ame
sem medo de se entregar.
Quando sofrer logo verá
que quem ama sofre
se ilude e se desilude
e mesmo assim ainda vai amar.
Nada sempre vai durar
um dia as coisas acabam
a terra gira
Mas nós sempre vamos recomeçar.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

ISSO É MUITA SABEDORIA

Quando fazemos tudo para que nos amem e não conseguimos, resta-nos um último recurso: não fazer mais nada. Por isso, digo, quando não obtivermos o amor, o afeto ou a ternura que havíamos solicitado, melhor será desistirmos e procurar mais adiante os sentimentos que nos negaram. Não fazer esforços inúteis, pois o amor nasce, ou não, espontaneamente, mas nunca por força de imposição. Às vezes, é inútil esforçar-se demais, nada se consegue;outras vezes, nada damos e o amor se rende aos nossos pés. Os sentimentos são sempre uma surpresa. Nunca foram uma caridade mendigada, uma compaixão ou um favor concedido. Quase sempre amamos a quem nos ama mal, e desprezamos quem melhor nos quer. Assim, repito, quando tivermos feito tudo para conseguir um amor, e falhado, resta-nos um só caminho...o de mais nada fazer.
(Clarice Lispector)

Nos Braços do Anjo

Perca seu tempo esperando por uma segunda chance
Para o intervalo que aliviará isso
Lá há sempre uma razão para não se sentir suficientemente bem
E é difícil no fim do dia
Eu preciso de alguma distração oh lindo desprendimento
Memórias se infiltram pelas minhas veias
Elas talvez sejam vazias e leves, e talvez
Eu encontre alguma paz esta noite

Nos braços de um Anjo, voar para bem longe daqui
Desta escuridão, quarto gelado de hotel e o infinito que você teme
Você fora dos destroços do seu devaneio silencioso
Você está nos braços de um Anjo, talvez encontre algum conforto aqui

(...)

Um estranho sentimento

Um estranho sentimento 
tomou conta do meu ser
não sei bem o que é
e tenho medo de saber.
Não sei se é paixão
ou apenas ilusão
Mas sei que é algo forte
que perturba meu coração.
Seja o que for este sentimento
eu não quero admitir 
que posso me ferir.
A verdade é que esse ser diferente
aos poucos me conquistou
agora me desconheço
nem ao menos sei quem sou.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012


A Lista

Faça uma lista de grandes amigos,
quem você mais via há dez anos atrás...
Quantos você ainda vê todo dia ?
Quantos você já não encontra mais?
Faça uma lista dos sonhos que tinha...
Quantos você desistiu de sonhar?
Quantos amores jurados pra sempre...
Quantos você conseguiu preservar?
Onde você ainda se reconhece,
na foto passada ou no espelho de agora?
Hoje é do jeito que achou que seria?
Quantos amigos você jogou fora...
Quantos mistérios que você sondava,
quantos você conseguiu entender?
Quantos defeitos sanados com o tempo,
era o melhor que havia em você?
Quantas mentiras você condenava,
quantas você teve que cometer ?
Quantas canções que você não cantava,
hoje assobia pra sobreviver ...
Quantos segredos que você guardava,
hoje são bobos ninguém quer saber ...
Quantas pessoas que você amava,
hoje acredita que amam você?
(Oswaldo Montenegro)
 
Encontro, algures na minha natureza, alguma coisa que me diz que não há nada no mundo que seja desprovido de sentido, e muito menos o sofrimento. Essa qualquer coisa, escondida no mais fundo de mim, como um tesouro num campo, é a humildade. É a última coisa que me resta, e a melhor (…). Ela veio-me de dentro de mim mesmo e sei que veio no bomvida, de uma vida nova (…). Entre todas as coisas ela é a mais estranha (…). É somente quando perdemos todas as coisas que sabemos que a possuímos. Não teria podido vir mais cedo nem mais tarde. Se alguém me tivesse falada dela, tê-la-ia rejeitado. Se ma tivessem oferecido, tê-la-ia rejeitado (…). É a única coisa que contém os elementos da vida, de uma vida nova (…). Entre todas as coisas ela é a mais estranha (…). É somente quando perdemos todas as coisas que sabemos que a possuímos.
(Oscar Wilde, in “De Profundis”)



O Dom de Amar
(Catedrral)
As horas se passaram aqui,
Tanta coisa e eu não percebi,
Mas eu sei que sempre eu senti,
Que você me fez, sempre feliz
Me ensinando como caminhar
Me ajudando para não errar,
Estendendo a mão pra me mostrar,
O maior dos dons, o dom de amar.
 Eu quero sentir nessa hora,
A Tua presença agora,
Falando ao meu coração
Com carinho e emoção
Te quero pra sempre em minha vida
O amor cicatriza a ferida,
Eu quero levar esse amor, para todos
Que eu encontre aonde eu for.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012



Somente com o coração nós podemos ver com clareza,
o essencial é invisível para os olhos.
(Saint Exupéry)


Não sei quantas almas tenho.

Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem acabei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,
Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem;
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.
Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que sogue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo : "Fui eu ?"
Deus sabe, porque o escreveu.
(Fernando Pessoa)
O rouxinol e a rosa
Oscar Wilde

"Ela disse que dançaria comigo se eu lhe trouxesse rosas vermelhas", exclamou o jovem Estudante, "mas em todo o meu jardim não há nenhuma rosa vermelha."

Do seu ninho no alto da azinheira, o Rouxinol o ouviu, e olhou por entre as folhas, e ficou a pensar.

"Não há nenhuma rosa vermelha em todo o meu jardim!", exclamou ele, e seus lindos olhos encheram-se de lágrimas. "Ah, nossa felicidade depende de coisas tão pequenas! Já li tudo que escreveram os sábios, conheço todos os segredos da filosofia, e no entanto por falta de uma rosa vermelha minha vida infeliz."

"Finalmente, eis um que ama de verdade", disse o Rouxinol. "Noite após noite eu o tenho cantado, muito embora não o conhecesse: noite após noite tenho contado sua história para as estrelas, e eis que agora o vejo. Seus cabelos são escuros como a flor do jacinto, e seus lábios são vermelhos como a rosa de seu desejo; porém a paixão transformou-lhe o rosto em marfim pálido, e a cravou-lhe na fronte sua marca."

"Amanhã haverá um baile no palácio do príncipe", murmurou o jovem Estudante, "e minha amada estará entre os convidados. Se eu lhe trouxer uma rosa vermelha, ela há de dançar comigo até o dia raiar. Se lhe trouxer uma rosa vermelha, eu a terei nos meus braços, e ela deitará a cabeça no meu ombro, e sua mão ficará apertada na minha. Porém não há nenhuma rosa vermelha no meu jardim, e por isso ficarei sozinho, e ela passará por mim sem me olhar. Não me dará nenhuma atenção, e meu coração será destroçado."

"Sim, ele ama de verdade", disse o Rouxinol. "Aquilo que eu canto, ele sofre; o que para mim é júbilo, para ele é sofrimento. Sem dúvida, o Amor é uma coisa maravilhosa. É mais precioso do que as esmeraldas, mais caro do que as opalas finas. Nem pérolas nem romãs podem comprá-lo, nem é coisa que se encontre à venda no mercado. Não é possível comprá-lo de comerciante, nem pesá-lo numa balança em troca de ouro".

"Os músicos no balcão", disse o jovem Estudante, "tocarão seus instrumentos de corda, e meu amor dançará ao som da harpa e do violino. Dançará com pés tão leves que nem sequer hão de tocar no chão, e os cortesãos, com seus trajes coloridos, vão cercá-la. Porém comigo ela não dançará, porque não tenho nenhuma rosa vermelha para lhe dar." E jogou-se na grama, cobriu o rosto com as mãos e chorou.

"Por que chora ele?", indagou um pequeno Lagarto Verde, ao passar correndo com a cauda levantada.

"Sim, por quê?", perguntou uma Borboleta, que esvoaçava em torno de um raio de sol.

"Sim, por quê?", sussurrou uma Margarida, virando-se para sua vizinha, com uma voz suave.

"Ele chora por uma rosa vermelha", disse o Rouxinol.

"Uma rosa vermelha?", exclamaram todos. "Mas que ridículo!" E o pequeno Lagarto, que era um tanto cínico, riu à grande.

Porém o Rouxinol compreendia o segredo da dor do Estudante, e calou-se no alto da azinheira, pensando no mistério do Amor.

De repente ele abriu as asas pardas e levantou vôo. Atravessou o arvoredo como uma sombra, e como uma sombra cruzou o jardim.

No centro do gramado havia uma linda Roseira, e quando a viu o Rouxinol foi até ela, pousando num ramo.

"Dá-me uma rosa vermelha", exclamou ele, "que cantarei meu canto mais belo para ti".

Porém a Roseira fez que não com a cabeça.

"Minhas rosas são brancas", respondeu ela, "tão brancas quanto a espuma do mar, e mais brancas que a neve das montanhas. Porém procura minha irmã que cresce junto ao velho relógio de sol, e talvez ela possa te dar o que queres."

Assim, o Rouxinol voou até a Roseira que crescia junto ao velho relógio de sol.

"Dá-me uma rosa vermelha", exclamou ele, "que cantarei meu canto mais belo para ti."

Porém a Roseira fez que não com a cabeça.

"Minhas rosas são amarelas", respondeu ela, "amarelas como os cabelos da sereia que está sentada num trono de âmbar, e mais amarelas que o narciso que floresce no prado quando o ceifeiro ainda não veio com sua foice. Porém procura minha irmã que cresce junto à janela do Estudante, e talvez ela possa te dar o que queres."

Assim, o Rouxinol voou até a Roseira que crescia junto à janela do Estudante.

"Dá-me uma rosa vermelha", exclamou ele, "que cantarei meu canto mais belo para ti."

Porém a Roseira fez que não com a cabeça.

"Minhas rosas são vermelhas", respondeu ela, "vermelhas como os pés da pomba, e mais vermelhas que os grandes leques de coral que ficam a abanar na caverna no fundo do oceano. Porém o inverno congelou minhas veias, e o frio queimou meus brotos, e a tempestade quebrou meus galhos, e não darei nenhuma rosa este ano."

"Uma única rosa vermelha é tudo que quero", exclamou o Rouxinol, só uma rosa vermelha! Não há nenhuma maneira de consegui-la?"

"Existe uma maneira", respondeu a Roseira, "mas é tão terrível que não ouso te contar."

"Conta-me", disse o Rouxinol. "Não tenho medo."

"Se queres uma rosa vermelha", disse a Roseira, "tens de criá-la com tua música ao luar, e tingi-Ia com o sangue de teu coração. Tens de cantar para mim apertando o peito contra um espinho. A noite inteira tens de cantar para mim, até que o espinho perfure teu coração e teu sangue penetre em minhas veias, e se torne meu."

"A Morte é um preço alto a pagar por uma rosa vermelha", exclamou o Rouxinol, "e todos dão muito valor à Vida. É agradável, no bosque verdejante, ver o Sol em sua carruagem de ouro, e a Lua em sua carruagem de madrepérola. Doce é o perfume do pilriteiro, e as belas são as campânulas que se escondem no vale, e as urzes que florescem no morro. Porém o Amor é melhor que a Vida, e o que é o coração de um pássaro comparado com o coração de um homem?"

Assim, ele abriu as asas pardas e levantou vôo. Atravessou o jardim como uma sombra, e como uma sombra voou pelo arvoredo.

O jovem Estudante continuava deitado na grama, onde o Rouxinol o havia deixado, e as lágrimas ainda não haviam secado em seus belos olhos.

"Regozija-te", exclamou o Rouxinol, "regozija-te; terás tua rosa vermelha. Vou criá-la com minha música ao luar, e tingi-la com o sangue do meu coração. Tudo que te peço em troca é que ames de verdade, pois o Amor é mais sábio que a Filosofia, por mais sábia que ela seja, e mais poderoso que o Poder, por mais poderoso que ele seja. Suas asas são da cor do fogo, e tem a cor do fogo seu corpo. Seus lábios são doces como o mel, e seu hálito é como o incenso.

O Estudante levantou os olhos e ficou a escutá-lo, porém não compreendia o que lhe dizia o Rouxinol, pois só conhecia as coisas que estão escritas nos livros.

Mas o Carvalho compreendeu, e entristeceu-se, pois ele gostava muito do pequeno Rouxinol que havia construído um ninho em seus galhos.

"Canta uma última canção para mim", sussurrou ele; "vou sentir-me muito solitário depois que tu partires."

Assim, o Rouxinol cantou para o Carvalho, e sua voz era como água jorrando de uma jarra de prata.

Quando o Rouxinol terminou sua canção, o Estudante levantou-se, tirando do bolso um caderno e um lápis.

"Forma ele tem", disse ele a si próprio, enquanto se afastava, caminhando pelo arvoredo, "isso não se pode negar; mas terá sentimentos? Temo que não. Na verdade, ele é como a maioria dos artistas; só estilo, nenhuma sinceridade. Não seria capaz de sacrificar-se pelos outros. Pensa só na música, e todos sabem que as artes são egoístas. Mesmo assim, devo admitir que há algumas notas belas em sua voz. Pena que nada signifiquem, nem façam nada de bom na prática." E foi para seu quarto, deitou-se em sua pequena enxerga e começou a pensar em seu amor; depois de algum tempo, adormeceu.

E quando a Lua brilhava nos céus, o Rouxinol voou até a Roseira e cravou o peito no espinho. A noite inteira ele cantou apertando o peito contra o espinho, e a Lua, fria e cristalina, inclinou-se para ouvir. A noite inteira ele cantou, e o espinho foi se cravando cada vez mais fundo em seu peito, e o sangue foi-lhe escapando das veias.

Cantou primeiro o nascimento do amor no coração de um rapaz e de uma moça. E no ramo mais alto da Roseira abriu-se uma rosa maravilhosa, pétala após pétala, à medida que canção seguia canção. Pálida era, de início, como a névoa que paira sobre o rio - pálida como os pés da manhã, e prateada como
as asas da alvorada. Como a sombra de uma rosa num espelho de prata, como a sombra de uma rosa numa poça d' água, tal era a rosa que floresceu no ramo mais alto da Roseira.

Porém a Roseira disse ao Rouxinol que se apertasse com mais força contra o espinho. Aperta-te mais, pequeno Rouxinol", exclamou a Roseira, "senão o dia chegará antes que esteja pronta a rosa."

Assim, o Rouxinol apertou-se com ainda mais força contra o espinho, e seu canto soou mais alto, pois ele cantava o nascimento da paixão na alma de um homem e uma mulher.

E um toque róseo delicado surgiu nas folhas da rosa, tal como o rubor nas faces do noivo quando ele beija os lábios da noiva. Porém o espinho ainda não havia penetrado até seu coração, e assim o coração da rosa permanecia branco, pois só o coração do sangue de um Rouxinol pode tingir de vermelho o coração de uma rosa.

E a Roseira insistia para que o Rouxinol se apertasse com mais força contra o espinho. "Aperta-te mais, pequeno Rouxinol", exclamou a Roseira, "senão o dia chegará antes que esteja pronta a rosa."

Assim, o Rouxinol apertou-se com ainda mais força contra o espinho, e uma feroz pontada de dor atravessou-lhe o corpo. Terrível, terrível era a dor, e mais e mais tremendo era seu canto, pois ele cantava o Amor que é levado à perfeição pela Morte, o Amor que não morre no túmulo.

E a rosa maravilhosa ficou rubra, como a rosa do céu ao alvorecer. Rubra era sua grinalda de pétalas, e rubro como um rubi era seu coração.

Porém a voz do Rouxinol ficava cada vez mais fraca, e suas pequenas asas começaram a se bater, e seus olhos se embaçaram. Mais e mais fraca era sua canção, e ele sentiu algo a lhe sufocar a garganta.

Então desprendeu-se dele uma derradeira explosão de música. A Lua alva a ouviu, e esqueceu-se do amanhecer, e permaneceu no céu. A rosa rubra a ouviu, e estremeceu de êxtase, e abriu suas pétalas para o ar frio da manhã. O Eco vou-a para sua caverna púrpura nas montanhas, e despertou de seus
sonhos os pastores adormecidos. A música flutuou por entre os juncos do rio, e eles leva ram sua mensagem até o mar.

"Olha, olha!", exclamou a Roseira, "a rosa está pronta." Porém o Rouxinol não deu resposta, pois jazia morto na grama alta, com o espinho cravado no coração.

E ao meio-dia o Estudante abriu a janela e olhou para fora.

"Ora, mas que sorte extraordinária!", exclamou. "Eis aqui uma rosa vermelha! Nunca vi uma rosa semelhante em toda minha vida. É tão bela que deve ter um nome comprido em latim." E, abaixando-se, colheu-a.

Em seguida, pôs o chapéu e correu até a casa do Professor com a rosa na mão.

A filha do Professor estava sentada à porta, enrolando seda azul num carretel, e seu cãozinho estava deitado a seus pés.

"Disseste que dançarias comigo se eu te trouxesse uma rosa vermelha", disse o Estudante. "Eis aqui a rosa mais vermelha de todo o mundo. Tu a usarás junto ao teu coração, e quando dançarmos ela te dirá quanto te amo."

Porém a moça franziu a testa.

"Creio que não vai combinar com meu vestido", respondeu ela; "e, além disso, o sobrinho do Tesoureiro enviou-me jóias de verdade, e todo mundo sabe que as jóias custam muito mais do que as flores."

"Ora, mas és mesmo uma ingrata", disse o Estudante, zangado, e jogou a rosa na rua; a flor caiu na sarjeta, e uma carroça passou por cima dela.

"Ingrata!", exclamou a moça. "Tu é que és muito mal-educado; e quem és tu? Apenas um Estudante. Ora, creio que não tens sequer fivelas de prata em teus sapatos, como tem o sobrinho do Tesoureiro." E, levantando-se, entrou em casa.

"Que coisa mais tola é o Amor!", disse o Estudante enquanto se afastava. "É bem menos útil que a Lógica, pois nada prova, e fica o tempo todo a nos dizer coisas que não vão acontecer, e fazendo-nos acreditar em coisas que não são verdade. No final das contas, é algo muito pouco prático, e como em nossos tempos ser prático é tudo, vou retomar a Filosofia e estudar Metafísica."

Assim, voltou para seu quarto, pegou um livro grande e poeirento, e começou a ler.

Motivo
 
Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.

Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.

Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
— não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.

Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
— mais nada.
(Cecilia Meireles)